Histórias ruandesas de mudança

Que tipo de crescimento pessoal pode advir do cometimento de atrocidades?

Já se passaram quase 25 anos desde o genocídio em Ruanda em 1994, um evento que levou a vidas destroçadas, pessoas deslocadas e, por algum tempo, uma sociedade arruinada. Ruanda desde então prosperou como nação, mas para aqueles que viveram o genocídio, suas memórias permanecem.

Em nosso trabalho no projeto de pesquisa de Ruanda Histórias de Mudança na Universidade de Nottingham na Inglaterra e na Universidade de St Andrews na Escócia, em colaboração com o Aegis Trust e o Arquivo de Genocídio de Ruanda em Kigali, temos nos interessado em crescimento pós-traumático ( PTG) após o genocídio no Ruanda em 1994.

A PTG descreve como a luta para superar a adversidade pode levar a mudanças positivas significativas na identidade de uma pessoa, relacionamentos com outras pessoas e perspectivas de vida. Ao longo de muitos anos, os pesquisadores coletaram evidências de PTP em sobreviventes de muitos eventos traumáticos da vida, incluindo algumas evidências emergentes em relação aos sobreviventes do genocídio de 1994.

Mais controverso é o estudo do PTG em relação aos perpetradores de violência política, e aqueles que cometeram atos de violência e participaram dos assassinatos no genocídio de 1994. De alguma forma, não parece certo discutir a noção de crescimento pessoal como decorrente de tais atos.

Em nosso artigo publicado recentemente, Laura Blackie, Nicki Hitchcott e eu discutimos a questão teórica e ética da aplicação do conceito de PTG aos perpetradores do genocídio.

É um tema controverso, mas uma razão pela qual o estudo dos perpetradores pode ser útil é devido ao potencial do PTG de promover uma reconciliação genuína e duradoura.

A reconciliação exige mais do que uma coexistência pacífica. Requer desculpas e perdão. Mas o que significa ser um perpetrador? Houve aqueles que orquestraram a violência para obter ganhos políticos, aqueles que participaram de benefícios materiais e aqueles que se ajustaram à pressão social. Nem todos tiveram a mesma motivação. Mas seja qual for a motivação, para o surgimento da PTG, deve haver aceitação do que se fez e das escolhas feitas. Remorso, vergonha e culpa podem ser críticos para eventualmente facilitar o PTG.

Mas talvez o termo PTG não seja útil quando usado neste contexto e seria melhor pensar em uma terminologia mais apropriada.

Concluímos em nosso artigo que a compreensão das histórias de mudança do perpetrador é um tópico digno de investigação futura devido à sua importância potencial para ajudar a promover a reconciliação. Nós pedimos cautela para os pesquisadores nesta área para atender cuidadosamente as importantes questões teóricas e éticas inerentes a um tema tão controverso.

Para saber mais, por favor veja aqui.

Referências

Blackie, LER, Hitchcott, N. e Joseph, S. (2017). À procura de crescimento pós-traumático em perpetradores do genocídio de 1994 em Ruanda: uma discussão sobre questões teóricas e éticas. Journal of Perpetrator Research, 1.1.