Psicologia Social versus Economia Comportamental: 3 Diferenças-chave

Apesar das fronteiras cada vez mais imprecisas na prática, as distinções permanecem.

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Nos últimos dez anos, a Behavioral Economics (BE) se tornou cada vez mais popular (veja o gráfico do Google Trends abaixo). De acordo com a BE, as decisões econômicas das pessoas geralmente são menos guiadas por preferências estáveis, análise racional e motivos egoístas do que por influências cognitivas, emocionais e sociais (muitas vezes altamente contextuais).

A faísca inicial para a popularidade do campo foi, sem dúvida, a publicação dos livros Predictably Irrational (Ariely, 2008) e Nudge (Thaler & Sunstein, 2008). Inspirada por este e outros desenvolvimentos no campo, a BE desenvolveu um forte corpo de literatura sobre aplicações do mundo real para a mudança de comportamento – ”cutucando”. Esta área combina ideias de várias disciplinas acadêmicas, particularmente BE e Psicologia Social (SP). ). De acordo com a Associação Americana de Psicologia, SP “é o estudo de como os indivíduos afetam e são afetados por outras pessoas e por seus ambientes sociais e físicos”. Conceitos clássicos de empurrão de SP incluem normas sociais, compromisso e preparação, entre outros. Idéias de incentivo mais associadas ao BE incluem padrões, opções de chamariz e enquadramento, para citar alguns. (Para uma visão geral das técnicas de incentivo, eu recomendaria Dolan et al., 2012, Sunstein, 2014 e Johnson et al., 2012.) A pesquisa e a prática do Nudge combinaram BE e SP sob os termos gerais da “ciência comportamental” aplicada. ou “insights comportamentais”.

Alain Samson

A popularização da economia comportamental

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Como resultado destes desenvolvimentos, as fronteiras entre BE e SP tornaram-se cada vez mais desfocadas, particularmente para pessoas fora desses campos. Então, além de teorias específicas, quais são as diferenças e semelhanças entre os dois campos?

No mais recente Guia de Economia do Comportamento (2018, pp. VII-VIII), o psicólogo social Robert Cialdini aponta três diferenças principais em relação às perguntas feitas por essas disciplinas, suas suposições subjacentes, bem como suas metodologias. Ele descreve o primeiro da seguinte forma:

Os economistas comportamentais fazem perguntas principalmente sobre a forma como as pessoas fazem escolhas / julgamentos econômicos ou sobre a forma como determinados sistemas financeiros (planos de aposentadoria, códigos tributários, etc.) afetam essas respostas (Thaler, 2018). Os psicólogos sociais estão dispostos a considerar também outras escolhas pessoais não-fiscais. Por exemplo, minhas equipes de pesquisa investigaram por que as pessoas são motivadas a jogar lixo em um espaço público, usar um agasalho para a equipe da casa, exibir cartazes de organização de caridade, reutilizar toalhas de hotel e oferecer uma unidade de sangue.

Essa distinção é importante e particularmente verdadeira para os economistas comportamentais preocupados com questões tradicionais sobre o comportamento dos agentes econômicos nos mercados. No entanto, alguns dos tópicos mencionados por Cialdini podem ser abordados por economistas comportamentais interessados ​​em trabalho, bem-estar ou economia ambiental.

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Exemplo de reutilização de toalha

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Quando as questões de pesquisa se sobrepõem, as diferenças entre BE e SP geralmente permanecem em termos de terminologia e metodologia, bem como os mecanismos psicológicos investigados. Enquanto os psicólogos sociais podem se referir a diferentes atitudes, motivações e comportamentos, os economistas (comportamentais) aderem a conceitos como utilidade, aversões e preferências. Em contraste com os psicólogos sociais, os economistas comportamentais às vezes pedem às pessoas que atribuam um preço às coisas (na forma de disposição a pagar ou disposição para aceitar) ou desenvolvem funções de utilidade que expressam as preferências das pessoas matematicamente.

O apego dos economistas comportamentais aos conceitos de utilidade é, sem dúvida, um diferenciador central dos psicólogos. Isso pode ser visto em artigos que analisam os apelos às normas sociais, como nos experimentos clássicos de reutilização de toalhas de hotel de Cialdini (ver Goldstein et al., 2008). Enquanto alguns economistas se concentram mais no terreno comum entre BE e SP em relação às normas sociais (por exemplo, Farrow et al., 2017), outros modelam matematicamente a “desutilidade de se desviar da norma” (Kallbekken et al., 2010) ou o “Recompensa moral” de seguir a norma (Ferraro & Price, 2013).

O próximo ponto de Cialdini é o seguinte:

Em segundo lugar, os economistas comportamentais ainda precisam combater a racionalidade versus a irracionalidade da batalha do comportamento humano (Rosalsky, 2018). Por exemplo, para garantir que as interpretações baseadas na teoria econômica neoclássica sejam devidamente abordadas, elas têm mais probabilidade do que os psicólogos sociais de incluir em seus projetos de pesquisa pelo menos uma condição envolvendo uma previsão racional de atores. Os psicólogos sociais, por sua vez, não têm essa necessidade, tendo há muito tempo concordado com a observação de Rabelais, de seis séculos, sobre a onipresença do ilógico humano: “Se você deseja evitar ver um tolo, precisa primeiro quebrar seu espelho. Como um aparte, uma vez perguntei a opinião de Richard Thaler sobre por que os proponentes do pensamento econômico neoclássico relutaram tanto em admitir a frequente irracionalidade de nossa espécie. Ele achava que isso se devia parcialmente à elevação dentro da economia da modelagem matemática, que funciona melhor na incorporação de elementos racionais do que irracionais – e continua sendo o padrão profissional, conferindo status ao modelador.

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John Stuart Mill

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O segundo ponto listado por Cialdini é crucial para a distinção entre SP e BE. Mesmo que os interesses dos dois campos possam estar convergindo até certo ponto, as suposições fundamentais sobre a natureza humana em suas principais disciplinas (economia e psicologia) são bem diferentes. O ponto de referência para BE é o agente racional – economia neoclássica ‘homo economicus (o’ homem econômico ‘referido pelos críticos de John Stuart Mill – retratado). O campo da psicologia nunca foi dominado por essa noção. Um certo nível de “irracionalidade” foi tomado como dado na maioria das ciências sociais.

Por que, então, o BE se tornou tão atraente, mesmo entre os psicólogos? As principais razões são as teorias úteis do campo de pesquisa (variando de aversão a perda a desconto de tempo), sua abordagem experimental rigorosa, bem como novas aplicações para mudança de comportamento.

Mas também tem sido sobre timing, contar histórias e percepção. O foco da BE é na pesquisa experimental que mostra como as pessoas realmente se comportam, e não como devem se comportar na crescente demanda por formulação e gerenciamento de políticas baseadas em evidências (por exemplo, Rynes & Bartunek, 2017). Para os não-acadêmicos (e sem dúvida acadêmicos também), as evidências apresentadas por BE contavam uma história convincente sobre a natureza “previsivelmente irracional” (Ariely, 2008) das decisões humanas, polvilhadas com muitos insights fascinantes e aha momentos. Embora a psicologia sempre tenha levado a sério a irracionalidade humana, a economia provavelmente teve um papel mais influente em muitas áreas, como a política pública, devido a sua imagem de disciplina mais “científica”. Isso não é uma coisa ruim: a popularidade do BE, sem dúvida, revigorou a relevância do SP através da ciência comportamental interdisciplinar e praticamente orientada.

Isso me leva ao terceiro ponto de Cialdini:

Finalmente, os economistas comportamentais são mais propensos a testar suas hipóteses em estudos de campo em larga escala sobre comportamentos consequenciais observados em cenários do mundo real – em comparação com investigações de laboratório de escolhas pessoais relativamente inconseqüentes feitas em um teclado. Por que os psicólogos sociais tendem a permanecer tenazmente no laboratório tem múltiplas respostas. Conveniência, resultados rápidos e abundantes a serem submetidos para publicação e a capacidade de coletar dados auxiliares para análises mediacionais desempenharam um papel importante. Mas, assim como a visão de Thaler do que ocorreu dentro da economia, um fator de reputação pode estar envolvido. A psicologia social acadêmica evoluiu de uma disciplina que muitos consideraram insuficientemente rigorosa (até 1965, sua principal publicação foi o Journal of Abnormal e Social Psychology) em uma que lutou por estatura mais baseada cientificamente do que clinicamente. Se é verdade que muitos economistas se apegaram à racionalidade financeira por causa do prestigioso aparato matemático dos modelos econométricos, talvez muitos psicólogos sociais tenham se apegado ao laboratório por causa de suas ligações de prestígio com a ciência rigorosa.

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Ciência sob o microscópio

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Em outras palavras, enquanto os métodos experimentais são o centro da ciência comportamental quantitativa em BE e SP, a busca de BE para tornar a economia mais humana abriu a disciplina para os cenários de pesquisa do mundo real. Mesmo que parte do trabalho de BE ainda conte com modelos abstratos e experimentos de laboratório, é um aliado natural de experimentos de campo – levando a pesquisa empírica a cenários onde as decisões são realmente tomadas. Como observa Cialdini, o gosto de experiências de SP pode muito bem ser devido à sua associação com experimentos de laboratório bem controlados. Como li recentemente em uma observação sobre a distinção BE vs SP de Cialdini, isso é bastante irônico, considerando a crise de replicação que afligiu o SP nos últimos anos.

Dadas todas essas diferenças, o que BE e SP têm em comum além do interesse no estudo experimental do comportamento humano? O psicólogo Daniel Kahneman certa vez observou que os psicólogos sociais são particularmente bons em entender o efeito do contexto no comportamento humano. Este foco em fatores contextuais, muitos acreditam, também está no coração da BE.

Referências

Ariely, D. (2008). Previsivelmente irracional. Nova Iorque: Harper Collins.

Cialdini, RB (2018). Por que o mundo está se voltando para a ciência comportamental? Em A. Samson (Ed.), O Guia de Economia Comportamental 2018 (com uma introdução de Robert Cialdini ) (pp. VII-XIII). https://www.behavioraleconomics.com/the-havhavioral-economics-guide-2018/.

Dolan, P., Hallsworth, M., Halpern, D., King, D., Metcalfe, R., & Vlaev, I. (2012). Influenciando o comportamento: O modo do espaço mental. Journal of Economic Psychology, 33 (1), 264-277.

Farrow, K., Grolleau, G. e Ibanez, L. (2017). Normas sociais e comportamento pró-ambiental: uma revisão das evidências. Economia Ecológica, 140, 1-13.

Ferraro, PJ e Price, MK (2013). Utilizando estratégias não-pecuniárias para influenciar o comportamento: Evidências de um experimento de campo em larga escala. Revisão de Economia e Estatística, 95 (1), 64-73.

Goldstein, NJ, Cialdini, RB e Griskevicius, V. (2008). Uma sala com um ponto de vista: Uso de normas sociais para motivar a conservação ambiental em hotéis. Journal of Consumer Research, 35 ( 3), 472-482.

Johnson, EJ, Shu, SB, Dellaert, BG, Fox, C., Goldstein, DG, Hem, G., Larrick, RP, Payne, JW, Peters, E., Schkade, D., Wansink, B., & Weber, UE (2012). Além de toques: Ferramentas de uma arquitetura de escolha. Marketing Letters, 23 (2), 487-504.

Kallbekken, S., Westskog, H., e Mideksa, TK (2010). Apela às normas sociais como instrumentos de política para lidar com as externalidades do consumo. The Journal of Socio-Economics, 39 (4), 447-454.

Rosalsky, G. (2018, 14 de maio). Liberando Econ 101: Além do alcance da mão invisível. Cientista Comportamental. http://behavioralscientist.org/freeing-econ-101-beyond-the-grasp-of-the-invisible-hand.

Rynes, SL, & Bartunek, JM (2017). Gestão baseada em evidências: fundamentos, desenvolvimento, controvérsias e futuro. Revisão Anual de Psicologia Organizacional e Comportamento Organizacional, 4, 235-261.

Sunstein, CR (2014). Nudging: um guia muito curto. Journal of Consumer Policy, 37 (4), 583-588.

Thaler, RH (2018, 7 de maio). Economia comportamental de nozes a ‘toques’. Revisão de Chicago Booth. http://review.chicagobooth.edu/behavioral-science/2018/article/behavioral-economics-nuts-nudges.

Thaler, RH e Sunstein, C. (2008). Deslocamento: Melhorar as decisões sobre saúde, riqueza e felicidade. New Haven, CT: Yale University Press.