Por Antônio Geraldo da Silva, MD, e Alexander Moreira-Almeida MD, Ph.D.
A depressão tem recebido cada vez mais atenção da mídia, especialmente quando é mencionada por pessoas extremamente conhecidas que a experimentaram. Este é o caso de um pregador brasileiro muito popular, o padre católico Marcelo Rossi, que, em seu livro mais recente, Philia , declarou publicamente que sofria desse transtorno mental. Nele, Rossi fala sobre as emoções que o levaram à depressão, como a tristeza, e revela como ele superou isso e outros "males contemporâneos" com a ajuda do amor fraterno, o significado da palavra grega que é o título do livro.
Em primeiro lugar, é importante deixar clara a diferença entre sentir-se triste ou "deprimido" e depressão (a desordem depressiva). A depressão é uma combinação de sintomas que afetam o organismo como um todo, afetando negativamente o corpo, o humor e até mesmo a forma como as pessoas vêem o mundo ao seu redor. A tristeza em si não é o mesmo que a depressão. A tristeza pode ser sentida por qualquer pessoa que, por exemplo, tenha encerrado um relacionamento ou perdido um emprego, situações que tendem a resolver-se sem necessidade de tratamento. O psiquiatra tem um papel fundamental neste diagnóstico e a fé, em ambos os casos, pode ser uma importante ferramenta de enfrentamento, contribuindo para a melhoria dos pacientes.
A importância da espiritualidade em saúde mental e tratamentos psiquiátricos foi demonstrada por milhares de estudos em todo o mundo. Pessoas com crenças e práticas religiosas / espirituais tendem a ter uma melhor saúde física e mental, além de obter melhores resultados no tratamento da depressão. Mas a fé precisa ser vista como parte do tratamento, não como a cura. É importante ressaltar que a depressão precisa de tratamentos específicos, mas a fé, além de fazer atividades físicas e retomar a vida social, pode realmente contribuir para a melhoria dessa condição clínica.
Também vale a pena notar que as pessoas que experimentam um episódio depressivo têm quase 50% de chance de experimentar uma segunda. E, uma vez que há uma recaída, há uma chance de 75% a 90% de um terceiro, a menos que a pessoa seja tratada corretamente. Portanto, é fundamental obter o diagnóstico correto e continuar com o tratamento, que pode envolver medicação, atividade física e psicoterapia, por exemplo.
Para dar uma ideia da situação, levem em conta que a cada três segundos uma pessoa faz uma tentativa de vida e que uma pessoa em cada quarenta segundos comete suicídio. A depressão está entre as doenças mais associadas a esses episódios. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, esta desordem mental torna-se uma realidade em algum momento da vida de cerca de 17% da população adulta. Isto significa que 30 milhões de brasileiros sofreram, sofrem ou sofrerão de depressão atualmente.
Apesar do fato de que esta doença afeta uma grande parte da população, ainda há muitos preconceitos contra ela. Quando uma pessoa famosa fala sobre isso abertamente e publicamente, ele ou ela ajuda milhões de pessoas que sofrem de depressão em silêncio para procurar ajuda. Mais do que isso: essa pessoa ajuda as pessoas a aceitar seu diagnóstico e começar o tratamento. Este é o primeiro passo para superar esta doença do século.
Antônio Geraldo da Silva é o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
Alexander Moreira-Almeida é professor associado de psiquiatria para a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenador da Comissão de Estudos e Pesquisa em Espiritualidade e Saúde Mental da ABP