Uma parábola sobre as proteções comerciais chinesas

O primeiro comentário de Rafael, mesmo antes de abrir os olhos, é o cheiro. Guangdong tem um cheiro particular: galinha queimada, misturada com óleo e poeira, suor e água do mar. Nenhuma outra porta cheira bem. "Bem, estou de volta", ele disse em voz alta, olhando para a escuridão atrás de seus pálpebras.

Os sons também são diferentes. A cacofonia que atravessava sua janela falava de multidões matutinas e barulhentos, tudo em linguagem de chilrear de pássaros – estranhamente singsong e totalmente incompreensível, mesmo após dez anos de ir e vir para o negócio de importação e exportação.

Guangdong. Seu pai nem sequer sabia que existia, e muito menos lá estava. A primeira vez que Rafael passeava por suas ruas alienígenas, tudo se sentia excitante e novo. Essa primeira viagem tinha sido mais aventura do que negócios, a verdade seja dita, uma viagem de descoberta que, olhando para trás, pagou enormes dividendos. Mas já não se sente tão aventureiro. Rafael ficaria muito feliz em virar o trabalho grato de viagens de negócios para outra pessoa, mas seus investidores de volta para casa estão todos muito felizes em deixá-lo fazer isso. Seu filho decidiu na faculdade de medicina – em Cracóvia, de todos os lugares – e Rafael dificilmente pode achar falhas com essa ambição. (Ele sabe que ele precisará de um bom médico em sua velhice, dada a sua inclinação para se dedicar em excesso toda vez que ele percorre a Ásia). Por um momento, ele ofereceu a esperança de que ele passasse as rédeas para o seu irmão mais novo, Thomas, mas, em última instância, Thomas declarou que ele resplandeceria sua própria trilha, e não um besouro de ida e volta retraindo o caminho bem usado de seu irmão mais velho. Que dia é hoje? O décimo quinto … Jorge já deve estar no Brasil até agora. Rafael avalia mentalmente a distância que o sol ainda tinha para viajar para alcançar seu irmão. "Provavelmente ficando bêbado em uma praia neste momento".

Sua família pode ser pequena, mas abrange o globo. Um sinal dos tempos.

Rafael ouve uma batida educada em sua porta. O sono, ao que parece, é tão impopular aqui como em qualquer outro lugar que ele tenha estado. Ele abriu os pálpebras e deixa uma ladeira fina apontar o cérebro para a vigília.

O resto do mundo nunca mais? Cada meia dúzia de anos, ao que parece, o trade trade do mundo para o próximo mercado emergente quente: a primeira Índia, depois o Sudeste Asiático, depois a China, agora o Brasil e o México e a África. Onde próximo? Ainda mais frenético é o alcance da atenção do mundo: todos os meses, um novo debate ou invenção ou distração multimídia é proclamado nas mídias sociais, torna-se viral, aproveita todo o rebanho humano como uma doença estranha, depois desaparece a tempo de ser ultrapassado pelo próximo. O estranho incide em um movimento social genuíno – ou seja, o filho de Rafael professa uma nova religião praticamente todos os anos, ele chega em casa para o Natal.

TOC Toc. "Sim, sim, estou levando!" Rafael atravessa a parede de madeira em seu estagiário incrivelmente grosseiro. Ele rola com um golpe maligno da cama e tropeça insegura em direção a sua pilha de roupas descartadas.

O chão está sempre cambaleando sob seus pés hoje em dia. Ele se equilibra positivamente toda vez que ele olha para o portfólio de ações. Rafael conhece os mercados das commodities – pelo amor de Deus, ele troca mercadorias para viver – mas não há previsão dos altos e baixos irracionais do mercado. É como se ninguém mais se encarregasse – exceto talvez a multidão.

Rafael termina de vestir-se, joga o trinco e abre a porta logo a tempo de pegar seu assistente no ato de bater pela terceira vez. O menino deixa a mão desajeitadamente. "Bom dia, senhor", ele se recupera.

Rafael passou por ele até o convés de seu navio, o Santa Catarina. "O que é tão importante que você teve que me acalmar nesta hora impiedade?" ele resmungou.

Seu escudeiro aponta o lado do porto para o cais, onde uma grupo de soldados de aparência séria se formou. Os olhos de Rafael se alargam.

"Acho que talvez a China ainda tenha algumas barreiras comerciais de pé", observou o menino.