Suicídio: é hora de quebrar tabus

Por Antônio Geraldo da Silva MD e Humberto Corrêa MD

Faz parte da história. Ao longo dos séculos, por razões religiosas e morais, o suicídio foi considerado um dos piores pecados, talvez o pior que um ser humano pudesse cometer. Este tabu, que tem raízes profundas em nossa cultura, se transformou em um problema e escondeu uma realidade triste: que pode afetar qualquer pessoa em qualquer momento da vida, independentemente do status socioeconômico, idade, raça, gênero ou religião. E também que está intimamente ligado a transtornos mentais que eliminam a liberdade de escolha de um indivíduo. Distúrbios mentais como depressão, transtornos bipolares e de personalidade, dependência química e esquizofrenia, que, quando comorbidades ou não são diagnosticadas ou tratadas adequadamente, representam aproximadamente 80% dos casos. Situações de vida estressantes, para esses indivíduos vulneráveis, como dificuldades financeiras e / ou emocionais, também são um fator significativo e podem ser um gatilho para o suicídio.

Antônio Geraldo da Silva
Fonte: Antônio Geraldo da Silva

Os próprios números deveriam ser suficientes para convencer alguém de que a questão não deveria ser vista como tabu, mas considerada como o que realmente é: um grave problema de saúde pública. Apenas para dar uma idéia da sua magnitude, o Brasil é o país com a oitava maior taxa de suicídio no mundo: 11,82 (por 100 000 pessoas) em 2012. Nesse mesmo ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 804 mil pessoas no mundo morreram desta e, a cada ano, o número de suicídios é maior que o de homicídios e baixas de guerra combinadas. Uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos. O suicídio também tem inúmeras repercussões, como o forte impacto que tal morte causa na vida de outras pessoas.

Levando tudo isso em consideração, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) está fazendo tudo o que pode para fornecer informações aos médicos e outros profissionais de saúde. Em 2014, o ABP lançou, juntamente com o Conselho Federal de Medicina (CFM), um panfleto chamado "Suicídio: informar para prevenir". Também apoiamos a campanha "Amarelo Setembro", propondo que, durante a semana de 10 de setembro, o Mundo Dia de Prevenção do Suicídio, balões amarelos sejam colocados em janelas e portas comerciais e residenciais. As autoridades de todo o país também são convidadas a usar a mesma cor para iluminar edifícios altamente visitados e monumentos públicos.

Humberto Correa
Fonte: Humberto Correa

Mas ainda há muito a ser feito. A consciência pública e a educação são cruciais. É tarefa das autoridades de saúde garantir que haverá estratégias organizadas para atender e tratar essas pessoas. Para que a prevenção do suicídio seja eficaz, os profissionais de saúde em todos os níveis, desde os cuidados primários até os cuidados de emergência, devem estar preparados para abordar, avaliar, identificar fatores de risco, proteger e realizar uma intervenção inicial em uma possível vítima de suicídio. Também é essencial ter uma estrutura de apoio que leve os indivíduos a cuidados prioritários em serviços especializados e eficientes que devem estar disponíveis 24 horas por dia. É importante lembrar que, uma vez que o comportamento suicida é altamente estigmatizado, às vezes é muito difícil pedir ajuda. Portanto, todos e cada um de nós e o governo têm a responsabilidade de garantir que esses indivíduos recebam o melhor tratamento possível e não acabem com suas vidas.

Antônio Geraldo da Silva é o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

Humberto Corrêa é membro da Comissão de Estudos e Prevenção do Suicídio da ABP