Tiro na escola no Brasil: choque e busca do significado

Alguns dias atrás, houve um tiroteio na escola em grande escala no Brasil, após o qual fui entrevistado por vários jornalistas brasileiros. Ao ler histórias sobre o incidente e responder às perguntas dos repórteres, fiquei impressionado com duas dinâmicas que muitas vezes são vistas na sequência dos tiroteios na escola.

Primeiro, houve o choque de que tal ataque poderia acontecer no Brasil. Este é o tipo de violência que as pessoas associam aos Estados Unidos ou a outras nações industrializadas. Não que o Brasil não tenha crimes violentos, mas de alguma forma os tiroteios escolares são um tipo diferente de crime, um tipo que não deveria acontecer no Brasil.

Esta dinâmica é vista repetidamente nos Estados Unidos também. Não importa quantos tiroteios escolares ocorram em subúrbios da classe média ou cidades pequenas, as pessoas continuam a pensar "isso não pode acontecer aqui". Cada vez que ocorre um tiroteio escolar no que é considerado uma comunidade segura e estável, há declarações feitas sobre o choque que tal coisa poderia acontecer na América da pequena cidade. A violência armada é associada a centros urbanos, não pequenas cidades quentes. Essa concepção continua a ser forte, apesar do fato de que tiroteios na escola de fuga ocorreram em cidades como West Paducah, Kentucky e Jonesboro, Arkansas, e não em Nova York, Chicago ou Los Angeles.

Por que é tão difícil reconhecer que a violência pode acontecer em qualquer lugar? Talvez seja induzido em erro pelas estatísticas sobre crimes violentos e onde isso tende a ocorrer. Talvez porque esses ataques atingem o coração do que acreditamos sobre nós mesmos, nossas comunidades e, às vezes, nossos países. Talvez simplesmente precisemos convencer-nos de que estamos seguros porque não podemos viver nossas vidas acreditando o contrário. Talvez precisemos localizar o mal em outros lugares, pensar que isso acontece "lá" e não "aqui".

O reconhecimento de que nenhum lugar pode ser considerado seguro foi levado para casa em 2006, quando um homem entrou em uma escola de Amish de um quarto em Lancaster, Pensilvânia e abateu dez garotas pequenas, matando cinco deles. Isso me atingiu por várias razões. Primeiro, ele veio na sequência de vários outros ataques escolares, por isso não pareceu um incidente isolado, mas um mais num grupo de assaltos assassinos nas escolas. Em segundo lugar, o condado de Lancaster é apenas uma hora de onde eu moro, e a proximidade geográfica provavelmente fez o impacto maior. Mas acima de tudo, me pareceu que, se crianças pequenas em uma casa da escola Amish puderem ser abatidas, qualquer coisa pode acontecer em qualquer lugar.

Este é um pensamento difícil de conviver, no entanto. É mais fácil acreditar que nossos filhos estarão seguros quando os enviarmos para a escola. E na maioria dos casos, eles serão. Mas não há garantia.

A segunda dinâmica que me impressionou nas questões dos repórteres foi a necessidade de interpretar – para fazer sentido – o tiroteio na escola. A necessidade de colocá-lo em um contexto histórico. Agora que o Brasil experimentou um tiroteio na escola, o que isso significa? Qual é o significado desse fato? O que isso indica sobre os jovens, sobre o Brasil, sobre a direção da cultura?

Novamente, essa resposta não é exclusiva do Brasil. Os tiroteios escolares nos Estados Unidos resultaram em anos de tentativas para entender esse fenômeno e o que isso implica em nosso país. Nossa parentalidade também é liberal ou nossas leis de armas também são soltas? Os jovens estão expostos a muita violência – real ou não? Estamos falhando em nossos filhos? Os adolescentes são simplesmente despreocupados e carentes de empatia? Houve uma perda de significado em nossa cultura?

Eu acredito que é importante ter em mente que os atiradores escolares são indivíduos extremamente aberrantes. Nos Estados Unidos, existem aproximadamente 60 milhões de alunos e mais milhões em faculdades e universidades. Os atiradores escolares não representam uma tendência; Eles são os mais distantes dos outliers. O Brasil é uma nação de aproximadamente 190 milhões de pessoas. É difícil interpretar o ato de um homem como significando algo sobre a cultura.

Eric Harris de Columbine não representa mais a juventude americana do que Timothy McVeigh representa adultos americanos. O atirador brasileiro, Wellington Menezes de Oliveira, teria uma longa história de dificuldades sociais e problemas psicológicos. Independentemente das forças que o levaram a assassinar, ele era um indivíduo solitário. Não há motivos para pensar que ele representa um fenômeno cultural, uma mudança na sociedade brasileira ou a ruptura da moral. Mas um limite foi violado, um limite foi cruzado e a busca do significado começou.