Quando o trabalho pode prejudicar sua saúde

A busca incessante de resultados, a tensão sobre os prazos e o estresse causado pelas horas passadas no trânsito no caminho para o caminho do trabalho são parte da rotina para a maioria dos trabalhadores. O que poucos deles conhecem – ou fingem não saber – é que esses fatores podem levar a uma desordem mental ou a piorar, como a depressão. Nas estatísticas globais, a doença está listada entre as três principais causas de licença por doença.

Fonte: Cortesia Antônio Geraldo da Silva

Este triste estado de coisas chamou a atenção do Ministério da Saúde, que, pela primeira vez, pediu ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística que investigasse a taxa de depressão entre os empregados. A pesquisa, realizada entre pessoas de 18 anos ou mais, mostrou que 6,2% da força de trabalho está afligida pela doença.

Este resultado apenas reforça nossa preocupação com a saúde mental do trabalhador. Na maioria das vezes, os empregados, que todos os dias têm que lidar com mais demandas no trabalho, não conseguem ver o que uma rotina estressante pode fazer para sua saúde a médio e longo prazo. Os distúrbios mentais são mais comuns do que a maioria das pessoas imaginam no ambiente de trabalho e são a terceira maior causa de licença por doença, sendo superada apenas por lesões traumáticas e distúrbios músculo-esqueléticos.

Somente em 2015, o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) concedeu mais de 63.000 benefícios para trabalhadores com diagnóstico de algum tipo de transtorno mental. Na Classificação Internacional de Doenças, utilizada como base de dados pelo INSS, a depressão está no topo da lista de transtornos mentais que mais frequentemente desativam os trabalhadores. Mais de 27.000 casos foram computados. Em segundo lugar, com mais de 16.000 casos, são transtornos mentais e comportamentais causados ​​pelo uso de múltiplos medicamentos. A seguir, há licença por doença devido a transtornos mentais causados ​​pelo uso de álcool, com mais de 5.000 casos, e aqueles causados ​​pelo uso de cocaína, com mais de 2.000 casos.

Fonte: Rosylane Mercês Rocha

O que concluímos deste cenário é que muitas pessoas sofrem em silêncio. Eles escondem fobias, depressão, transtornos de ansiedade e, o que ainda é pior, eles não procuram ajuda. Devido a negligência ou mesmo devido ao medo de ser julgado. Tudo isso, é claro, afeta o desempenho do trabalho e, como conseqüência, torna a situação ainda pior. É importante mencionar que mesmo aqueles que são capazes de colocar seus preconceitos de lado e buscar ajuda especializada estão envergonhados de seu diagnóstico e temem que eles sejam estigmatizados como loucos, preguiçosos e mentirosos. Precisamos mudar essa realidade.

O agravamento dos transtornos mentais devido às pressões do local de trabalho, o medo do desemprego e as crises financeiras podem levar o trabalhador a uma situação crítica, como o suicídio. Para evitar isso, o governo precisa investir em políticas de saúde mental baseadas em fato científico e não em ideologias vazias.

A ausência de prevenção adequada tem conseqüências não só para os trabalhadores e suas famílias, mas também para a sociedade em geral devido aos enormes custos gerados, em particular devido à perda de produtividade e à tensão nos sistemas de segurança social. A Organização Internacional do Trabalho estima que os acidentes de trabalho e as doenças relacionadas ao trabalho resultam em uma perda anual de 4% do PIB mundial – cerca de 2,8 bilhões de dólares.

As empresas devem, por meio de gerentes bem treinados, prestar atenção ao comportamento de seus funcionários. É importante distinguir, por exemplo, se uma pessoa é desmotivada devido a um problema específico no trabalho, se houver uma característica pessoal. Precisamos aprender a realmente ver a outra pessoa. O médico ocupacional de uma empresa tem um papel fundamental na saúde do trabalhador, porque eles poderão ver sinais e sintomas precoce de doenças mentais e recomendar que o trabalhador seja submetido à avaliação especializada de um psiquiatra. Do mesmo modo, os programas de prevenção de violência no local de trabalho e dependência química precisam ser parte da rotina de saúde da equipe de uma empresa.

É vital que qualquer pessoa diagnosticada com algum tipo de transtorno mental siga seu tratamento corretamente e que seu empregador supervisione esse processo. Cuidar da saúde mental do trabalhador representa, em todos os aspectos, vantagens para o próprio trabalhador, para aqueles que o contrataram e para a sociedade como um todo.

Antônio Geraldo da Silva é psiquiatra e é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

Rosylane Mercês Rocha é médico de saúde ocupacional e a Comissão Internacional de Saúde Ocupacional (ICOH) Secretário Nacional do Brasil